Bom, eu me animo com o resultado do exercício maluco proposto pelos senhores Assis/Queneau...
“Ele chegou à porta, ligou a lanterna e deu um suspiro”. Não ia começar desse jeito porque nem sabia quem era “ele”. Mas seria alguém que gostasse de literatura. Fosse "ele" ou "ela". Então. Primeira frase: “Cedo ela teve uma intuição: se comprasse o James Joyce, jamais ganharia o Cervantes.” Mas que besteira. O Cervantes, quando ele nem escrevia em espanhol. Não que não pudesse merecer esse prêmio algum dia. Porque, a fim de contas, ele não era como aquele colega da Academia. O cão revelou-se indigno de sua raça, acabou escrevendo comerciais de iogurte. Ainda sem começo, recorreu ao jornal. Leu um pé de foto: “Acabaram a noite sem muitas surpresas”. Quem era que escrevia os pés de foto dos jornais? E quem se importava com a noite daquele casal da foto? A TV, na sala deserta e escura, transmitia para as moscas os funerais da princesa. Ele, entretanto, apenas agonizava sobre o teclado do computador. Podia se inspirar nessa morte que transtornara o país, que o virara de cabeça para baixo. De certo tal romance ia virar um best-seller. Foi para a cama dando voltas a essa idéia. E, no dia seguinte, a segurou. Porque o Governador, nesse dia, baixou um decreto instituindo uma nova condecoração para quem melhor louvasse a bela e jovem princesa morta.
quinta-feira, 24 de abril de 2008
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Um comentário:
É isso aí mesmo. Mas, por enquanto, apenas 5 botaram a cara com o Logorrali. A pergunta que só quer falar: e os outros?
Há braços mil
do Assis Brasil
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