sexta-feira, 25 de abril de 2008

Exercício: Juntar as frases em único texto.


(1) Ele chegou à porta, ligou a lanterna e deu um suspiro. Moveu-se lentamente. Não queria que Flávia o visse chegando àquela hora da madrugada.
Uma voz embargada chamou sua atenção. Focou, de repente, a lanterna na direção. Viu-a deitada no sofá, assistindo televisão. Ela voltou-se para ele e contou, direto, sem rodeios que (2) Cedo tivera uma intuição: se comprasse o James Joyce jamais ganharia o Cervantes. Ele achou graça no senso de humor da namorada. Pelo menos não estava empunhando nenhuma adaga e espreitando no escuro da sala.
Isso até fez com que ele ficasse envergonhado. Já não era a primeira vez, nem a segunda, que fazia aquele papelão diante de Flávia. Sentia-se um cão, o (3) cão que se revelou indigno de sua raça. Desligou a lanterna e aproximou-se, com calma, sentindo até onde poderia ir, até onde poderia estar com ela diante das circunstâncias. Ele mal pode acreditar que (4) acabaram a noite sem muitas surpresas: (5) a TV, na sala deserta e escura, transmitia para as moscas os funerais da princesa; ele, entretanto, apenas agonizava. A culpa decidiu atormentá-lo. Teria sido muito melhor se ela houvesse esbravejado, gritado, socado seu peito com toda a energia. Mas, não, ela apenas estava ali, deitada, dormindo, sem culpa. A sua culpa, ao contrário aumentava cada vez mais, ganhava espaço diante da pureza de Flávia. Aquela pureza que ninguém tem mais nos dias de hoje. Não merecia sua raça bandida. E, sim, uma condecoração por sua alma limpa. A premiação dos justos. Dos que dormem tranqüilos como Flávia dormia. Cogitou que (6) O Governador, nesse dia, baixara um decreto instituindo uma nova condecoração: Aos puros de espírito, não pecadores, não devedores, seria garantido o sono recompensador, sem sobressaltos, sem interrupções. Aos pecadores, como ele, a insônia seria a insígnia da culpa. Ao lado de Flávia passou sua noite clara, assistindo o funeral e condecorando-se.

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