quinta-feira, 15 de maio de 2008

Conto criado a partir da caixa de fósforos de Marinella

Fósforos de cor azul maia e palito tão fino que dá medo de usar


Fósforos de cor azul maia e palito tão fino que dá medo de usar. Azul fusão entre o índigo e a paligorsquita: o menino disse. Eu, eu não sei o que é. Fósforos da cor mais bela que eu já vi: azul maia de Chichén Itzá. Cor sagrada maia. Fósforos, quem sabe, sagrados também. 23 fósforos escondidos em uma caixinha pequenina que não lhes faz justiça, com as cores banais da bandeira colombiana e a frase “Cerillas de Colombia”. Caixinha bonitinha. Com, na outra face, uma coruja de olhos amarelos exorbitantes sobre fundo preto. Comprada em Tuluá.

Paligorsquita, o menino repetiu. Três vezes: Pa-li-gors-quita. Qui-ta. Usté no entiende? Vu né comprené pá? O menino não se desesperou, quis fazer-se entender. Só não falava português. Mas quando soube que éramos de São Paulo falou de uma assentada os nomes e sobrenomes de todos os presidentes do Brasil. Crianças pobres espertas da América do Sul. A coruja, ele disse, esticando o braço, aproximando-a do meu nariz, era um deus maia. Isso eu não sei se acreditar. Difícil acreditar nessas crianças. Mas o azul maia. Esse índigo com paliguinquita, que mesmo que fosse combustível eu não queimaria. Não sou religiosa. Mas aquela criança, aqueles olhos.

Um comentário:

Oficina de Criação Literária Luiz Antônio Assis Brasil- Edição 39 disse...

Muito legal, não imaginei que a cor dos meus palitos de fósforo tivesse um nome tão complicado, nem que eles estivessem ligados a um deus maia! :o)
Bjo
Marinella