terça-feira, 24 de junho de 2008

Patrícia e Isadora chegaram a casa às três horas e encontraram o pai e o irmão sentados na sala de estar tomando um café. Poderia ser uma reunião agradável entre pai e seus três filhos. Também poderia ser que os objetivos dos filhos não fossem alcançados. Tudo isso dependeria do curso do encontro.
— E então, pai, pensou bem no assunto? — perguntou Isadora. Seria bastante sensato que ele houvesse decidido como os três filhos desejavam.
— Querida filha minha — respondeu seu Leopoldo ao se remexer na cadeira e calmamente levantar — há mais coisas entre o céu e a terra do que pode constatar a sua jovem irrequieta filosofia. Vamos com calma com esse tal assunto de vocês.
Fez-se sentir o silêncio na sala e os três se entreolharam. Seu Leopoldo sabia que eles estavam cruzando os olhares, mesmo estando de costas para todos, servindo-se de café na bancada. Não iriam conseguir o que queriam assim tão fácil. Não é que quisesse teimar com o pedido dos filhos. No fundo sabia que eles tinham alguma razão. Também sabia que existiam motivos bem pessoais e próprios da personalidade de cada filho que alçavam seus objetivos. Não queria se render a eles.
Devolveu, então, a Isadora a primeira parte de seu argumento questionando-a sobre os destinos daquela casa, caso ele saísse de lá. Ela titubeou e tentou esconder dele que venderiam a casa e que parte do dinheiro seria usada para pagar a dívida de sua empresa. Mais silêncio arrancou olhares cruzados dos três filhos. Isadora calou-se. Patrícia, então, aventurou-se:
— Mas pai, ainda que esse seja o problema de Isadora, estamos pensando em sua saúde. Será que dá para pensar nisso também, por favor, e parar de teimar com o que não tem mais tanta importância?
Seu Leopoldo sentou-se na mesma poltrona novamente e mirou o dia lá fora. Estava frio. Por segundos passou em sua mente Patrícia quando pequenininha. Sempre argumentadora, prestativa e concentrada. Boa menina. Olhou para a filha com carinho e disse-lhe:
— Bem, é verdade, mas também é certo que se eu for para lá você vai precisar estar menos comigo e poderá dedicar mais tempo ao seu trabalho e a sua família, né?
Patrícia ficou visivelmente contrariada e procurou demover o pai da idéia de que não o visitaria. Claro, sabia que isso não era completamente verdade. Ele estava certo. Fazer o quê, se estava difícil essa vida de profissional, mãe, dona-de-casa e filha de pai que gosta de chamegos.
Seu Leopoldo deu um risinho escondido. Olhou para o filho mais velho, Elias, como que esperando o desfecho.
Elias era providente e sensato. Seu Leopoldo sabia que os interesses dele eram bem mais obscuros, no entanto. Esperou para ver como seriam revelados. Elias fez um movimento levando a mão direita à testa. Olhou para fora com ar de preocupação.
— Pois é, pai. Só que parece que dessa reunião de família haverá de sair uma decisão. Somos três contra um, aqui. Sabes que será melhor para você estar com pessoas da sua idade, divertindo-se e não mais apegado ao trabalho e à empresa. Eu posso tocar o negócio muito bem sozinho.
Seu Leopoldo não moveu uma expressão sequer. Entristecido estava por não poder ouvir dos filhos seus sinceros motivos. Mais triste ainda ficava em saber que eles preocupavam-se tão pouco com o seu bem-estar. Lamentou que a esposa não estivesse mais presente. Ouviu de Elias que mesmo que ela estivesse lá a decisão estaria tomada. Seu Leopoldo foi buscar outro café. Serviu-se. Virou-se para os filhos, olhou-os com carinho por um instante e encerrou o assunto:
— Essa casa é minha alma. A empresa ainda é meu motivo de viver ,e, as visitas da Patrícia e dos netos são minha maior alegria. Nenhum lugar, por mais aconchegante, alegre, confortável substituirá o que me resta. Desculpem esse velho gagá, mas daqui só para o céu! Estamos conversados!

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