sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Abertura para uma personagem

(transcrito do livro “Desvarios no Brooklyn”, de Paul Auster)



Eu procurava um lugar sossegado para morrer. Um dia alguém me recomendou o Brooklyn, e já na manhã seguinte saí de Westchester e fui sondar o terreno. Fazia cinqüenta e seis anos que eu não punha os pés ali e não me lembrava de nada. Eu tinha três anos de idade quando meus pais se mudaram do Brooklyn, mas instintivamente me vi regressando ao ponto de partida, rastejando, como um cachorro ferido, de volta ao lugar onde eu nascera. Visitei uns seis ou sete imóveis junto com um corretor local, e no final da tarde já havia alugado um apartamento térreo de dois quartos e jardinzinho nos fundos na rua Um, a meio quarteirão de distância do parque Prospect, num prédio de arenito pardo. Eu não sabia quem eram os vizinhos e também não me interessava saber. Todos trabalhavam das nove às cinco, nenhum tinha filhos, portanto o prédio devia ser até certo ponto tranqüilo. Mais do que tudo, era isso que eu buscava. Um final silencioso para uma vida triste e absurda.

por Leonardo Wittmann

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